Na sexta-feira antes do carnaval, o defensor público Ricardo Melro foi procurado pela irmã de um paciente que estava internado no HGE com uma fratura na perna.
O problema apresentado: o doente precisava se submeter a uma cirurgia, mas tinha de aguardar numa longa lista de outros pacientes do mesmo hospital que esperavam procedimentos semelhantes.
Como não conseguiu resolver a questão por telefone, de forma mais prática e rápida, Melro decidiu fazer uma inspeção no HGE, na última segunda-feira. Foi checar no local a informação que recebera de que havia dezenas de pessoas vivendo o mesmo drama.
A realidade com a qual se deparou é chocante: recebeu, lá mesmo no HGE, uma relação de 56 pacientes que precisam ser submetidas a cirurgias ortopédicas, sem datas definidas para que isso ocorra.
“O quadro é surreal”, define. E não é para menos.
Há pacientes que esperam pela cirurgia desde o mês de dezembro.
A secretária de Saúde, Rosângela Wiszomiska , confirma o quadro e ainda completa:
– O número já é maior do que o encontrado pelo defensor.
Ela afirma que quando assumiu, em janeiro, mais de 90 pacientes com fraturas diversas estavam na mesma situação: “Nós conseguimos reduzir esse número, que já voltou a crescer”.
Boa parte dos pacientes, depois da “imobilização primária”, retorna para suas casas, ficando no aguardo dos procedimentos cirúrgicos. A ala de ortopedia do HGE, segundo revelou, “permanece lotada, não cabe mais ninguém”.
O fato é que continuam chegando novos casos para o único lugar em que a população mais carente tem acesso: o HGE.
Ela afirma que ainda hoje vai tentar refazer o “termo de compromisso” firmado com a rede privada, na tentativa de reduzir o sofrimento dos que precisam desse tipo de tratamento.
O defensor Ricardo Melro, no entanto, cobra pressa e ação imediata. Ele já oficiou ao Estado e ao Município para que o problema tenha uma solução em três dias, no máximo:
– Só a realização de um mutirão, já, sem mais delonga, pode representar algum respeito às pessoas e as família que estão sofrendo sem explicação.
Ele anuncia que vai dar entrada na Justiça em uma Ação Civil Pública caso a resposta não seja positiva em relação aos pacientes do Hospital Geral do Estado.
Eis um retrato da Saúde Pública no Brasil.
A secretária de Saúde mostra que tem uma visão estratégica do problema:
– Precisamos investir e priorizar a Atenção Básica, o alicerce do SUS. Não podemos deixar que tudo se resolva na média e alta complexidade.
Não é o caso, claro, das vítimas de acidentes, à espera de cirurgias ortopédicas.
Mas tudo não pode desabar no velho e sofrido HGE. Fonte: Blog do Ricardo Mota.