Para Nelson Rodrigues dos Santos, o Nelsão, governos vem ‘distorcendo o SUS, com drástico desfinanciamento federal, desinvestimento e uma precarização do trabalho público’
Nelson Rodrigues dos Santos, o Nelsão, condenou a política do governo
federal de desfinanciamento do Sistema Único de Saúde brasileiro em favor dos
planos de saúde privados. Em entrevista publicada no portal do Centro
Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) o presidente do Instituto de Direito
Sanitário Aplicado (IDISA), professor aposentado da Unicamp e membro do
conselho consultivo do CEBES, analisou o desempenho dos governos Lula e Dilma
com relação à falta de recursos para o SUS.
Nelsão considera a formação de um “núcleo duro” entre os Ministérios da
Fazenda, da Casa Civil e do Planejamento “que vem distorcendo o SUS com
drástico desfinanciamento federal, desinvestimento e precarização do trabalho
público, com transformação do setor privado complementar em substitutivo do
setor público”.
“Paralelamente, fortes e crescentes subvenções públicas ao mercado de
planos privados de saúde, cooptando para esse mercado as camadas sociais
médias, incluindo os trabalhadores sindicalizados e as centrais sindicais. Foi
a lógica e a estratégia dominante de desviar o rumo do Estado de Bem
Estar-Social universalista para o rumo do Estado neoliberal, submisso ao mercado
no campo dos direitos sociais”, afirmou o professor.
Para Nelson Rodrigues o governo Dilma no que tocou às políticas públicas
de universalização da saúde, ao contrário do almejado pelo povo e todos os
setores progressistas “barrou todas as iniciativas de repor pelo menos parte do
desfinanciamento do SUS e impôs a PEC 358/2013, que reduziu mais ainda a
parcela federal (no financiamento do SUS). Continuou a elevação das subvenções
públicas ao mercado de planos privados de saúde (MP 619/2013), patrocinou financiamentos
extremamente facilitados para ampliação dos hospitais próprios das empresas de
planos privados e de hospitais privados sofisticados, e abriu o mercado
assistencial privado ao capital estrangeiro (MP 656/2014)”.
O professor afirma ainda que, considerando o apoio popular no segundo
mandato do ex-presidente Lula, houve uma “perda histórica” na oportunidade de
consolidar “as políticas públicas universalistas”. “Temo que tenham estreitado
as chances, não só da efetivação daquelas políticas públicas, como também da
própria continuidade do distributivismo de Estado”, disse.
“Estamos hoje com 70-75% da população atendida só pelo SUS e 30-35% pelo
SUS e planos privados, estes com per capita total para saúde 5 vezes maior, e
por sua vez segmentados no acesso e qualidade conforme a faixa de preço do
plano, sendo complementados pelo SUS na rotina e nas ações judiciais
individuais”, denunciou Nelson Rodrigues.
Para que seja possível caminhar para um SUS eficiente, o professor
recomenda “insistir ao exagero na ligação” entre o governo e a Comissão
Intergestores Tripartite, aos colegiados do CONASS, CONASEMS, dos COSEMS, do
CNS e suas comissões, os movimentos sociais e entidades da sociedade civil,
inclusive as ligadas ao Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (CEBES,
ABRASCO, ABrES, AMPASA, Rede Unida, APSP, IDISA, SBB e outras) para ao “menos
em 1/3 das suas atividades”.
“Inclusive porque não se trata de qualquer sectarismo à esquerda, mas
somente de coerência efetiva contra a cooptação do nosso Estado, no campo dos
direitos sociais fundamentais, pela voracidade do mercado neoliberal”,
destacou.
Nelsão fez uma avaliação do processo das Conferências Nacionais de
Saúde. “Ao nível nacional, as grandes questões ligadas ao financiamento, à
gestão, à compra de serviços privados, à gestão do pessoal, às subvenções
públicas ao mercado da saúde e à construção do modelo “SUS” de atenção à saúde,
encontram-se nas suas deliberações subsidiadas pelas comissões técnicas. O
relatório final da 14ª Conferência Nacional aponta importantes e oportunas
análises, indicações e recomendações”.
O Conselho Nacional de Saúde, para Nelson Rodrigues deverá “resgatar
suas análises e posições quanto ao financiamento, gestão, regulação e modelo de
atenção à saúde, cabendo lembrar da PEC 51/2014 de autoria do Presidente da
Câmara dos Deputados, que obriga os empregadores rurais e urbanos, com
correspondente renúncia fiscal, a prover seus empregados com planos privados de
saúde, PEC absolutamente enquadrada na lógica e estratégia do “núcleo duro”.
Para ele a “A 15ª Conferência Nacional de Saúde deve produzir um
relatório final consistente e forte, capaz de subsidiar a própria sociedade na
mobilização pela retomada do SUS ao seu rumo constitucional inicial. Essa
retomada requererá um a dois planos decenais, mesmo contando com efetiva
vontade política favorável superando o “núcleo duro”, cujo início poderá ser a
efetiva implementação de duas conquistas a favor do SUS: o Decreto 7508/2011
(que delibera sobre a organização e o planejamento do SUS em todo país) e Lei
141/2012 (que estabelece valores mínimos de investimento da União, Estados e
Municípios) além do retorno ao PLIP 321/2013 (destinação de 10% do PIB para a
Saúde Pública), já com 2,2 milhões de assinaturas de eleitores”.
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