Greve por aumento real mobiliza bancários em todos os estados
Categoria recusou os 0,56% de aumento real proposto pela Federação dos Bancos
A greve dos bancários, que iniciou na terça-feira, ganhou força e na quarta, 6.248 agências e centros administrativos já haviam se integrado ao movimento. De acordo com a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), a greve ocorre em todos os estados e no Distrito Federal, e vem se ampliando.
A greve foi a resposta dos bancários à proposta de “aumento real” de 0,56% apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Considerada uma provocação, os trabalhadores, que reivindicam 5% de aumento real, decidiram pela paralisação por tempo indeterminado.
“O movimento está aumentando rápido de acordo com os relatos de sindicatos de todo o país. A força da greve é proporcional à insatisfação dos bancários, que cresce a cada dia sem manifestação por parte dos bancos. Esta é uma das maiores greves que fizemos nos últimos 20 anos”, afirmou Carlos Cordeiro, presidente da Contraf e coordenador do Comando Nacional dos Bancários. E destacou que “estamos abertos para a retomada das negociações e cabe aos bancos apresentarem uma nova proposta que atenda as reivindicações dos bancários”.
A pauta de reivindicações foi apresentada no início de agosto. Após diversas rodadas de negociação e, em todas elas, os bancos recusaram os itens apresentados pelos sindicatos, a Fenaban afirma agora que “a greve dos bancários é totalmente injustificada e foi decidida de maneira precipitada”. Isso depois de não garantir a manutenção dos empregos, recusar garantir mais segurança aos trabalhadores e depois de dizer que os bancários estão recebendo aumentos reais “há muito tempo”.
“A greve tem crescido a cada dia e é importante que todos participem deste forte movimento nacional. Os bancos já sentiram isso e estão apelando para os interditos (tentativa de impedir manifestações nas agências). Mas para resolver a campanha, só apresentando nova proposta com aumento real nos salários, valorização dos pisos, PLR maior e melhoria nas condições de trabalho”, alertou Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
“Nossas reivindicações são justas e as empresas têm todas as condições de atendê-las, como mostram os altíssimos valores da remuneração dos diretores e conselheiros de administração dos bancos”, completa Cordeiro.
Segundo o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, a proposta dos bancos deixou a categoria indignada: ela não contém valorização do piso salarial, não amplia a participação nos lucros, e muito menos traz avanços em relação às reivindicações de emprego e melhoria das condições de trabalho. “A proposta frustrou as expectativas dos trabalhadores”, declarou o presidente do sindicato, Arilson Silva.
Em São Paulo, os bancários e trabalhadores dos Correios, também em grave (ver matéria nesta página), estão organizando em conjunto uma grande passeata na sexta-feira, dia 30. A concentração está marcada a partir das 16h, na rua Líbero Badaró, próximo à sede do Sindicato dos Bancários.
Bancos lucram como ninguém neste país, mas desrespeitam a sociedade brasileira
“Os maiores bancos lucraram mais de R$ 27,4 bilhões somente no primeiro semestre do ano. No entanto, eles propuseram reajuste de 8% aos bancários, o significa apenas 0,56% de aumento real. Enquanto isso, altos executivos chegam a ganhar até 400 vezes o valor do piso da categoria, mostrando que eles não querem distribuir renda e ajudar o Brasil a se desenvolver”. É o que afirma Carta Aberta divulgada pela Contraf.
No documento, a entidade denuncia os abusos e pressões sofridas pelos funcionários para que os bancos tenham cada vez mais lucros: “Para atingir esses lucros gigantescos, os bancos pressionam os bancários a vender produtos aos clientes, mesmo que eles não precisem. Exigem metas cada vez maiores, impossíveis de serem atingidas. Por causa dessa pressão e do assédio moral, os bancários estão adoecendo cada vez mais. Mas os banqueiros não querem discutir medidas para preservar a saúde dos trabalhadores”, diz o documento.
“Os banqueiros ganham dinheiro como ninguém neste país, mas desrespeitam tanto os seus funcionários quanto os clientes, os usuários e a sociedade brasileira”, declarou o presidente da entidade, Carlos Cordeiro.
Parlamentares se manifestam em apoio à greve
“A greve é um instrumento justo e legítimo que os trabalhadores têm na luta por suas reivindicações”, ressaltou o deputado estadual, Luiz Cláudio Marcolino (PT-SP), em apoio à paralisação nacional iniciada pela categoria na terça, dia 27.
Segundo o parlamentar, a greve é uma resposta à proposta insuficiente apresentada pela Fenaban ao Comando Nacional dos Bancários. “Eles (os bancos) perderam uma grande oportunidade de resolver a campanha na mesa de negociação. Quando observamos os balanços das instituições financeiras, verifica-se que seus lucros crescem a cada ano, independentemente do cenário econômico que o país esteja. Assim, seria possível às empresas fazerem uma alteração significativa na Participação nos Lucros e Resultados, tornando a distribuição mais justa e maior aos trabalhadores”.
O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), também manifestou solidariedade ao movimento e afirmou que a greve é de total responsabilidade dos bancos. “As instituições financeiras poderiam apresentar proposta em que seus ganhos de produtividade fossem revertidos em aumento real de fato nos salários. Não fizeram isso e agora apostam no enfraquecimento do legítimo movimento dos trabalhadores. Só que os bancários já demonstraram que estão dando um salto de mobilização a cada ano que passa e por isto têm obtido avanços”, disse.
Berzoini apontou ainda que a bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados declarou total apoio à greve dos bancários. “Queremos que tanto os bancos privados quanto os bancos públicos apresentem propostas melhores aos trabalhadores”, acrescentou.
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