terça-feira, 2 de setembro de 2014

Atenção básica não dispõe de médicos

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)


São Luís do Quitunde – A atenção básica à saúde é o primeiro nível de atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). É a “porta de entrada”, onde a população teria acesso a especialidades básicas como clínica geral, pediatria, obstetrícia e ginecologia. Estudos demonstram que a atenção básica é capaz de resolver cerca de 80% das necessidades e problemas de saúde. Mas, como solucioná-los se a porta ao abrir não leva o cidadão a lugar nenhum?

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – postos do Programa Saúde da Família – operam precariamente nos municípios da região Norte de Alagoas. Em São Luís do Quitunde, em três unidades visitadas pela

Gazeta de Alagoas no mês de julho, nas localidades de Pindoba, Quitunde e Lagoa Vermelha (zona rural), não havia médicos disponíveis.

Sem atendimento na ponta do sistema, os usuários migram para os hospitais que, depauperados, não suportam a grande demanda. Prostrada no duro banco de madeira e refestelada na fria parede revestida com azulejos brancos estava Maria Cristina de Lima, 41 anos. Ela esperava por atendimento no Hospital Municipal José Augusto, no centro São Luís do Quitunde.

Moradora do bairro Quitunde, a mulher sofria com dores pelo corpo; a garganta inflamada. “Fui ao posto do Quitunde, mas a médica está de férias; aliás, falta médico em todos os postos. Tenho uma mãe com 77 anos de idade, doente, em cima de uma cama faz três anos. O agente de saúde só passa lá de seis em seis meses”, reclamou, enquanto aguardava por atendimento.

Com 32 leitos e cerca de 120 atendimentos diários, o Hospital José Augusto só dispõe de um médico, que se desdobra para vencer o plantão de 24 horas. Os centros cirúrgico e radiológico estão desativados há anos. Dessa forma, os casos de média e alta complexidades são logo transferidos para Maceió.

Além dos usuários municipais, o Hospital de São Luís do Quitunde acaba absorvendo, também, segundo a direção, pacientes dos municípios de Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e Barra de Santo Antônio. “No fim de semana, cai tudo aqui”, revelou a diretora administrativa Lúcia Tenório.

ZONA RURAL

Em São Luís do Quitunde, a Gazeta de Alagoas visitou a UBS Corália Belo da Silva, no povoado Pindoba. No posto de saúde, havia apenas dois servidores: um agente administrativo e uma serviçal.

“Eu procurei o posto de saúde para apresentar o exame de meu filho e o médico está de férias. Não existe ninguém para substituí-lo. É sempre assim”, criticou o trabalhador rural Luiz dos Santos, 23, morador do povoado.

Na UBS de Pindoba não há dentista. As marcações para consultas são realizadas às sextas-feiras e os procedimentos são feitos no posto de saúde do centro da cidade. Na semana em que a Gazeta de Alagoas esteve na UBS Corália Belo, as marcações tinham sido suspensas, conforme cartaz afixado na porta de entrada da unidade.

A situação se agrava na zona rural. A Fazenda Lagoa Vermelha fica a cerca de 25 km do centro da cidade. Na propriedade, moram aproximadamente 120 famílias. Segundo a agricultora Alessandra Maria dos Santos, 39 anos, não há dentista na Unidade Básica de Saúde (UBS) Antônio Buarque Filho há pelo menos um ano.

“É preciso tirar uma ficha para ser atendida pelo dentista em São Luís do Quitunde. A gente se vale mesmo é do dentista do sindicato (dos trabalhadores rurais), esse não falha”, argumentou a agricultora.

MATRIZ

Desestruturada também se encontra a rede básica de atendimento à saúde de Matriz do Camaragibe. Sem médico no posto do Programa de Saúde da Família (PSF) do seu bairro, a dona de casa Rayane Cristina da Silva, 20, migrou para o Hospital Municipal Luiz Arruda em busca de atendimento pediátrico para o filho de apenas três meses de vida. Ela não conseguiu atendimento especializado para curar a conjuntivite que acometia o rebento.

“No posto não tem pediatra. Aqui tem, mas só são 20 fichas. Eu não consegui o encaixe e fui atendida por um clínico geral”, explicou Cristina, a embalar a criança impaciente. Com 25 leitos, o Hospital Luiz Arruda também não realiza cirurgias porque o centro destinado a esses procedimentos está desativo há mais de uma década.

Assim como nos demais hospitais da região Norte, não existem na unidade serviços de radiologia e a maternidade só funciona para partos normais de baixo risco. As transferências de pacientes para Maceió são constantes e crescem ainda mais nos fins de semana, quando acidentes de trânsito, sobretudo aqueles envolvendo motocicletas, se avolumam embalados pelo consumo de álcool e drogas ilícitas.

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