terça-feira, 2 de setembro de 2014

Consultas são feitas apenas duas vezes por mês

Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Palmeira dos Índios – Quando vão fazer suas orações antes de dormir, os moradores do Sítio Lavras – comunidade de difícil acesso no município de Palmeira dos Índios – sempre incluem preces pela saúde de suas famílias. É preciso muita fé porque o posto de saúde do povoado só abre uma vez por semana e tem médico a cada quinze dias.

“O jeito é rezar para que nossos filhos não fiquem doentes quando estiver faltando muitos dias para o médico chegar. Se é uma febre ou gripe, a gente se vira com os remédios que tem em casa, mas se for um problema mais grave, pode até morrer antes de conseguir uma consulta”, afirma a agricultora Helenilda Herculano Vieira.

Ela mora ao lado do posto de apoio, mas já passou apuros quando precisou de atendimento médico para si ou para algum dos parentes. De acordo com Helenilda, uma das opções é o posto de saúde da Serra da Mandioca, que só tem médico uma vez por semana.

“Aqui, ou você tem seu próprio transporte, seja cavalo, carroça ou moto, ou então tem que andar a pé, como é o meu caso. Se for para pegar um ônibus ou carro para ir até a cidade, tem que ir para a pista, que é quase uma hora de caminhada. Se a pessoa doente não conseguir andar até lá, o jeito é pedir para alguém que vai para a cidade mandar um táxi de lá, o que sai muito caro. Ou então, morre mesmo”, contou a agricultora.

A vizinha de Helenilda, Rosalva Germano da Silva, que também trabalha como agricultora, fala que muitas vezes chega a caminhar mais de três horas quando precisa de atendimento médico. Ela conta que, pouco tempo atrás, o filho de oito anos teve uma inflamação na garganta, acompanhada por febre, e precisou levá-lo até o posto de saúde do povoado Serra da Mandioca.

“Ele é pesado e eu precisei carregá-lo no braço debaixo do sol. Não encontrei ninguém que pudesse dar uma carona para a gente e fui caminhando até o outro posto de saúde. Foram quase quatro horas de caminhada e tinha horas que achava que não ia conseguir, mas pelo filho a gente faz tudo, não é? Além do cansaço, as costas doíam muito e tive que parar várias vezes e botar meu filho no chão porque não aguentava. Pelo menos, no fim, deu para fazer a consulta com o médico, que passou remédio e agora ele está bom”, relatou Rosalva Germano.

Apesar da dificuldade, segundo ela, os moradores do Sítio Lavras ainda preferem ir até a Serra da Mandioca do que procurar atendimento médico na cidade. “Em caso de emergência, o pessoal do posto diz que a gente tem que procurar a UPA ou o hospital, em Palmeira dos Índios. Outra opção é ir para Quebrangulo, já que depois de chegar na pista fica mais perto”, disse Rosalva Germano.

Helenilda completa dizendo que, às vezes, os moradores acabam preferindo procurar um farmacêutico a aguardar por atendimento na UPA. “Quando a gente procura o hospital, demora tanto para ser atendido que, às vezes, é melhor procurar uma farmácia, se tiver algum dinheiro. Sei que o farmacêutico não é igual ao médico, que vai examinar melhor, mas se for uma coisa mais simples é melhor ir na farmácia mesmo, até porque, se ficar muito tarde, fica difícil até conseguir transporte para voltar para casa”, contou.

DENTRO DA ESCOLA

A falta de médicos não é o único problema do posto de saúde de Lavras. Segundo os moradores, o atendimento poderia ser melhor se o espaço não fosse dividido com a escola da comunidade. “O posto funciona uma vez por semana, às quintas-feiras, pela manhã, e a escola funciona só no período da tarde. Então um não atrapalha o outro na questão de horário, mas acho que se a gente tivesse uma escola e um posto de saúde em locais separados seria muito melhor”, afirma o morador da comunidade, Antônio Germano.

O trabalhador Erisvaldo Gonçalves Paiva concorda com o amigo. De acordo com eles, se o posto de saúde e escola funcionassem em locais separados, seria possível formar mais turmas na escola, o que impediria que crianças tivessem que pegar o transporte escolar para assistir às aulas em outra comunidade. Eles acham também que o atendimento médico poderia ser melhor. “Se a gente tivesse um posto de saúde de verdade, acho que não teriam que passar tantas requisições encaminhando para médico na cidade. Talvez, mesmo que não tivesse médico sempre, pelo menos teria alguém que pudesse dar um remédio para a pessoa ir melhorando até o dia da consulta”, considerou.

EQUIPE VOLANTE

A secretária de Saúde de Palmeira dos Índios, Verônica Medeiros, demonstrou que não vê nenhum problema no atendimento médico nas comunidades rurais. “Não é só em Lavras que acontece desse jeito. Faz parte da estratégia do PSF ter uma equipe montada no Centro de Saúde da Família, que fica localizado em um povoado maior. Nas comunidades menores, há uma equipe que faz atendimento nos postos-bases uma vez a cada quinze dias. A atribuição principal dessas equipes não é atender casos de doença, embora façam isso também, mas atuar na prevenção”, explica.

Segundo Verônica, em casos de emergência ou de necessidade de consulta médica fora dos dias em que há médico na comunidade, a recomendação é para que os pacientes procurem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na zona urbana de Palmeira dos Índios, ou então o Centro de Saúde a que o posto da localidade está vinculado. “É assim que funciona”, reforça.

A secretária afirma que Palmeira dos Índios conta com 13 postos de saúde em funcionamento, na zona urbana, e outros nove espalhados pela zona rural. De acordo com ela, a cobertura de Saúde da Família no município chega a 97%. “Das equipes existentes, apenas duas estão incompletas. Em uma delas, a médica se afastou devido a problemas de saúde e está de benefício; na outra, o afastamento teve motivo eleitoral. Também já solicitamos mais uma equipe de PSF para melhorar ainda mais a cobertura”, declarou.

SANTANA DO IPANEMA

O município de Santana do Ipanema também adota o modelo de PSF volante na zona rural. A secretária municipal de Saúde, Petrúcia Mattos, afirma que a cobertura do Programa Saúde da Família chega perto de 70% e apenas em dois povoados há médicos disponíveis para atender a população a semana inteira.

“Em São Félix e Areias, que são os maiores povoados na zona rural, nós temos Centros de Saúde. De lá saem equipes volantes, uma vez por semana, para fazer atendimento nos postos base, alguns deles improvisados, mas já melhoramos muito a cobertura. Tínhamos apenas nove equipes, agora temos 12”, declarou.

Segundo Petrúcia, todas as equipes estão completas. Apesar de recentemente uma médica ter pedido exoneração do cargo, a secretária garante que ela já foi substituída. “Não há uma rotatividade grande de médicos por aqui, como acontece em outros municípios. Atualmente, temos cinco médicos cubanos do programa Mais Médicos e o restante tem residência em Santana mesmo”, declarou.

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