terça-feira, 2 de setembro de 2014

Instalação de unidade já dura quatro anos

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Maragogi – A ordem de serviço para a instalação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Maragogi foi assinada em agosto de 2010, pelo então secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta. As obras, entretanto, só seriam iniciadas em 2012, com prazo de conclusão de 90 dias. Mas a estrutura física do prédio só ficaria pronta em janeiro de 2014.

Instalada à margem da AL-101 Norte, a UPA de Maragogi está orçada em R$ 2.396.625,75. A cerca de 200 metros da praia, o prédio de estrutura metálica permanece fechado e já apresenta ferrugem nas vigas. Até agora, apenas o mobiliário foi entregue e permanece guardado dentro de alguns cômodos da unidade. São macas, camas e balcões, além de suportes para aplicação de injeção e soro.

Segundo a secretária municipal de Saúde, Rosana Rios, o mobiliário foi entregue pelo governo do Estado, como contrapartida. Ela assumiu a pasta recentemente e disse que vai se reunir com técnicos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para se inteirar sobre a situação da UPA e colocá-la em funcionamento o mais rapidamente possível.

O prefeito Henrique Peixoto (PSD) informa que o município assinou convênio com a Sesau para assumir e realizar a licitação destinada à compra dos equipamentos, avaliados em meio milhão de reais. Os recursos já estão disponíveis na conta específica do município. “Se fosse para o Estado fazer a licitação, demoraria mais um ano, então a Sesau entendeu que o processo licitatório deveria ser feito pelo município e nos repassou os recursos. A licitação foi feita e aguardamos apenas a entrega do material”, informou o prefeito.

A intenção da Sesau é inaugurar a UPA de Maragogi na segunda semana de setembro. Os gestores municipais, entretanto, estudam uma maneira de viabilizar a gestão da unidade, depois que o Estado a repassar à prefeitura. Eles temem não conseguir arcar com os custos mensais da UPA quando esta estiver em funcionamento.

A região Norte do Estado é totalmente desprovida de hospitais e unidades de saúde equipadas. Dessa forma, haveria uma migração de pacientes de outros municípios a Maragogi. “Não será fácil manter a UPA principalmente com a crise financeira que os municípios brasileiros atravessam. Vamos tentar viabilizar um convênio com Japaratinga. O prefeito do município, Newberto Neves, já se mostrou disposto a colaborar financeiramente”, revelou Henrique Peixoto, afirmando ser um sonho pôr em funcionamento a UPA.

Enquanto a instalação da UPA de Maragogi já dura quatro anos, os moradores e visitantes do segundo maior polo hoteleiro de Alagoas e um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil sofrem com uma acanhada Unidade Mista de Saúde, desprovida até de equipamentos de radiologia.

A Unidade Mista de Maragogi tem apenas 12 leitos e registra uma média de 100 atendimentos diários de urgência e emergência (demanda espontânea). O município – com cerca de 30 mil habitantes – não possui hospital. Sem estrutura na Unidade Mista, se avolumam as transferências de pacientes a outros centros, sobretudo a Maceió. De maio a julho, as ambulâncias fizeram 250 viagens.

A Unidade Mista funciona ainda como maternidade, mas apenas para partos normais e de baixo risco. “As minhas companheiras de trabalho costumam dizer que nessa sala de parto tem um Deus vivo”, comenta a parteira Maria de Fátima Santos, 62 anos. Ela garante que já trouxe ao mundo cerca de três mil bebês. Começou na profissão ainda com 16 anos de idade, auxiliando a avó que também era parteira. Para Maria de Fátima, a pior sensação é quando ocorre um óbito durante o parto.

Apesar de a maternidade da Unidade Mista só realizar procedimentos de baixo risco, o caso pode evoluir e se tornar grave, surpreendendo a equipe médica, que não dispõe de equipamentos modernos para monitorar o quadro da paciente e do bebê. Foi o que aconteceu recentemente, lembra Maria de Fátima.

“Recebemos uma gestante que tinha feito três ultrassonografias (fora na Unidade Mista) e o bebê estava na posição correta para nascer. Quando ela começou a sentir as dores do parto, fiz o toque e percebi que a criança havia sentado. Como aqui não fazemos cesarianas, levamos a paciente para Porto Calvo às pressas, mas não teve jeito: o bebê morreu. Quando isso acontece eu fico arrasada. É como se eu perdesse um pedaço de mim”, lamentou Maria de Fátima.

SESAU

A previsão da Sesau é pôr a UPA de Maragogi em funcionamento na segunda semana de setembro. Segundo a Secretaria, a unidade está com a estrutura física pronta e os equipamentos sendo adquiridos. “O Estado aguarda uma posição do município sobre a chegada de todos os equipamentos para instalar e entrar em pleno funcionamento. Aí o Estado passa a gestão à prefeitura, como já aconteceu em Penedo, Viçosa, Marechal Deodoro e Palmeira dos Índios”, informou a Sesau, por meio da assessoria de imprensa.

Os recursos aplicados para a construção e aquisição dos equipamentos da UPA de Maragogi, segundo a Sesau, são provenientes do Ministério da Saúde (R$ 1,4 milhão) e do governo do Estado (R$ 996.625,75). A Sesau esclarece, ainda, que a gestão da UPA é tripartite: o governo federal entra com 50% dos recursos para custeio, o Estado com 25% e o município de Maragogi com os 25% restantes.

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