A fragilidade na organização da atenção à saúde básica em Alagoas é um dos principais fatores de adoecimento da população. Na avaliação da professora Maria Edna Bezerra da Silva, vice-coordenadora de Extensão da Faculdade de Medicina (Famed) da Ufal, a baixa cobertura na atenção primária, aliada à desestruturação das unidades básicas, à falta de valorização profissional e à ingerência na atenção primária, sobrecarrega serviços de referência na atenção terciária e leva o sistema de saúde ao caos.
Gazeta. Como está hoje a saúde no Estado?
Edna Bezerra. Falando da saúde em Alagoas, e em especial em Maceió, nós temos um grande problema que acaba por congestionar, inflar a atenção terciária, que é a fragilidade na organização da atenção básica no Estado e no município. Hoje, Maceió tem uma cobertura de apenas 27% da estratégia Programa Saúde da Família (PSF). Isso significa que a atenção básica, que é a atenção primária, a porta de entrada do usuário no sistema, onde o cidadão deveria resolver pelo menos 80% dos seus problemas de saúde, não consegue cumprir sua missão. Problemas como pico hipertensivo, diabetes descontrolada e outros relacionados com as condições sociais, como a falta de saneamento, estão sendo negligenciados ou não resolvidos, e isso impacta na história da saúde.
A baixa capacidade resolutiva da atenção básica interfere em outros níveis de cuidados?
Sim. Se a realidade nos mostra uma atenção básica que não atende às demandas das comunidades, não dá cobertura integral, não consegue garantir resolutividade às doenças crônicas – que deveriam ser controladas nas unidades primárias – o hospital passa a ser a porta de entrada para o cuidado. A falta de organização da saúde básica e do sistema de referência e contrarreferência para encaminhar o usuário que precise de um cuidado secundário é uma falha grave. A desestruturação dessa rede básica tem como principal consequência superlotar, sobrecarregar a atenção terciária, como acontece no Hospital Geral do Estado e no Hospital Universitário. É quando se instala o caos.
Quais investimentos deveriam ser feitos para mudar essa realidade?
É preciso melhorar a atenção primária: ampliar a cobertura dos serviços, investir na estrutura das unidades, valorizar o profissional da rede, investir nas equipes do PSF – para que, de fato, elas possam atender o usuário com qualidade – e promover a saúde. O foco da saúde básica é exatamente a promoção da saúde. Também é preciso investir na realização de concursos e, principalmente, na implantação de um plano de cargos e carreira para melhorar a inserção do profissional da saúde no serviço e reduzir a evasão que a gente presencia atualmente. Uma das prerrogativas do PSF é manter o vínculo entre profissional e usuário, que é um diferencial imprescindível para a qualidade do trabalho, mas isso não acontece porque o profissional fica volante, atuando em vários municípios para sobreviver.
Como a universidade tem contribuído para melhorar esse quadro?
A Faculdade de Medicina avançou muito na sua reforma curricular. Hoje, baseado nas diretrizes curriculares, o curso tem uma formação voltada para a atenção básica. Desde 2005, nosso projeto político-pedagógico foi estruturado para formar o estudante voltado à atenção básica, onde a gente tem a maior demanda social para atender. O curso busca formar o profissional generalista visando à assistência na atenção básica.
A resposta tem sido positiva?
A formação do profissional generalista é um grande desafio. A maioria dos alunos entra na universidade com foco em uma especialidade. Muitas vezes é difícil nossa caminhada nessa formação. Mas a faculdade tem esta missão. O aluno passa dois anos no internato, dentro da unidade básica, do PSF, e esta experiência contribui para a formação generalista. Uma grande dificuldade que a gente percebe nesse momento da formação é a fragilidade da atenção primária. A rede está deficiente em sua estrutura física e, ao chegar neste espaço, algumas vezes os alunos ficam desmotivados, pouco confortáveis para fazer o trabalho. No entanto, eles ressaltam que este é o momento em que, de fato, mais se aproximam da população, e isso tem contribuído para uma formação diferenciada.
Quais outras atividades estão alinhadas com essa missão da universidade?
Por meio da extensão universitária, nós temos outra forma de dialogar com a sociedade. Hoje, a Famed tem um programa de extensão onde projetos de promoção à saúde são desenvolvidos, especialmente nas comunidades vicinais do campus. São projetos direcionados à prevenção, ao controle de endemias, entre outros. Também existem projetos em unidades de saúde referenciadas, como o HGE, que dialogam com o acolhimento, a assistência e a humanização. É uma forma de a universidade se aproximar da comunidade e cumprir com seu papel de fomentar o desenvolvimento social e trabalhar a qualidade de vida.
Gazeta. Como está hoje a saúde no Estado?
Edna Bezerra. Falando da saúde em Alagoas, e em especial em Maceió, nós temos um grande problema que acaba por congestionar, inflar a atenção terciária, que é a fragilidade na organização da atenção básica no Estado e no município. Hoje, Maceió tem uma cobertura de apenas 27% da estratégia Programa Saúde da Família (PSF). Isso significa que a atenção básica, que é a atenção primária, a porta de entrada do usuário no sistema, onde o cidadão deveria resolver pelo menos 80% dos seus problemas de saúde, não consegue cumprir sua missão. Problemas como pico hipertensivo, diabetes descontrolada e outros relacionados com as condições sociais, como a falta de saneamento, estão sendo negligenciados ou não resolvidos, e isso impacta na história da saúde.
A baixa capacidade resolutiva da atenção básica interfere em outros níveis de cuidados?
Sim. Se a realidade nos mostra uma atenção básica que não atende às demandas das comunidades, não dá cobertura integral, não consegue garantir resolutividade às doenças crônicas – que deveriam ser controladas nas unidades primárias – o hospital passa a ser a porta de entrada para o cuidado. A falta de organização da saúde básica e do sistema de referência e contrarreferência para encaminhar o usuário que precise de um cuidado secundário é uma falha grave. A desestruturação dessa rede básica tem como principal consequência superlotar, sobrecarregar a atenção terciária, como acontece no Hospital Geral do Estado e no Hospital Universitário. É quando se instala o caos.
Quais investimentos deveriam ser feitos para mudar essa realidade?
É preciso melhorar a atenção primária: ampliar a cobertura dos serviços, investir na estrutura das unidades, valorizar o profissional da rede, investir nas equipes do PSF – para que, de fato, elas possam atender o usuário com qualidade – e promover a saúde. O foco da saúde básica é exatamente a promoção da saúde. Também é preciso investir na realização de concursos e, principalmente, na implantação de um plano de cargos e carreira para melhorar a inserção do profissional da saúde no serviço e reduzir a evasão que a gente presencia atualmente. Uma das prerrogativas do PSF é manter o vínculo entre profissional e usuário, que é um diferencial imprescindível para a qualidade do trabalho, mas isso não acontece porque o profissional fica volante, atuando em vários municípios para sobreviver.
Como a universidade tem contribuído para melhorar esse quadro?
A Faculdade de Medicina avançou muito na sua reforma curricular. Hoje, baseado nas diretrizes curriculares, o curso tem uma formação voltada para a atenção básica. Desde 2005, nosso projeto político-pedagógico foi estruturado para formar o estudante voltado à atenção básica, onde a gente tem a maior demanda social para atender. O curso busca formar o profissional generalista visando à assistência na atenção básica.
A resposta tem sido positiva?
A formação do profissional generalista é um grande desafio. A maioria dos alunos entra na universidade com foco em uma especialidade. Muitas vezes é difícil nossa caminhada nessa formação. Mas a faculdade tem esta missão. O aluno passa dois anos no internato, dentro da unidade básica, do PSF, e esta experiência contribui para a formação generalista. Uma grande dificuldade que a gente percebe nesse momento da formação é a fragilidade da atenção primária. A rede está deficiente em sua estrutura física e, ao chegar neste espaço, algumas vezes os alunos ficam desmotivados, pouco confortáveis para fazer o trabalho. No entanto, eles ressaltam que este é o momento em que, de fato, mais se aproximam da população, e isso tem contribuído para uma formação diferenciada.
Quais outras atividades estão alinhadas com essa missão da universidade?
Por meio da extensão universitária, nós temos outra forma de dialogar com a sociedade. Hoje, a Famed tem um programa de extensão onde projetos de promoção à saúde são desenvolvidos, especialmente nas comunidades vicinais do campus. São projetos direcionados à prevenção, ao controle de endemias, entre outros. Também existem projetos em unidades de saúde referenciadas, como o HGE, que dialogam com o acolhimento, a assistência e a humanização. É uma forma de a universidade se aproximar da comunidade e cumprir com seu papel de fomentar o desenvolvimento social e trabalhar a qualidade de vida.
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