terça-feira, 2 de setembro de 2014

Sem assistência, alagoanos vão para Pernambuco

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Barreiros (PE) – Oitenta por cento da cidade de Barreiros, no Litoral Sul pernambucano, foi atingida pela enchente do Rio Una, em junho de 2010. A enxurrada de águas barrentas pôs no chão o hospital do município com uma população de 42 mil habitantes. Menos de três anos depois, em 1º de fevereiro de 2013, o governo de Pernambuco inaugurava, no Engenho Alegre, à margem da PE-060, o Hospital Municipal Jailton Messias, reconstruído com R$ 10,2 milhões.

É para lá que quase diariamente rumam os alagoanos em busca de atendimento médico de qualidade, seja nas áreas de urgência e emergência ou ambulatorial. No desespero, vale até falsificar o endereço, fingir que é pernambucano, para não ter que penar sem assistência nos hospitais e nas unidades desestruturadas da região Norte de Alagoas.

Segundo a direção do Hospital Municipal de Barreiros, as ocorrências envolvendo pacientes alagoanos chega a 30% de todo o atendimento ali realizado. São, na maioria, moradores dos municípios de Maragogi, Japaratinga e de Porto Calvo, cuja distância média até Barreiros é de 40 quilômetros.

Só de Maragogi, de janeiro até julho, foram atendidos 45 pacientes em consultas emergenciais, sem contar os casos de cirurgias eletivas ali realizadas. “Se for emergência, a gente atende, afinal o Sistema Único é universal. Agora, na parte ambulatorial, não temos obrigação. Mas não vamos voltar um paciente que veio de tão longe e deixá-lo sem atendimento aqui”, disse o diretor administrativo do Hospital Municipal de Barreiros, Marcos Miranda.

Uma médica que já trabalhou em Maragogi e que hoje atua na área clínica do Hospital de Barreiros acredita que a desestruturação da rede de atendimento à saúde de Alagoas provoca essa fuga para o Estado vizinho de Pernambuco.

“Sei que a saúde por lá está um caos em todas as unidades. Eu trabalho aqui (Barreiros) e em São José da Coroa Grande (PE) e é muito comum recebermos pacientes de Maragogi, de Japaratinga, de Porto Calvo. Atendemos casos de emergência pelo SUS em qualquer local, mas muita gente vem aqui em busca de atendimento ambulatorial, usa endereço falso para poder ser atendido, porque não tem assistência em Alagoas”, revelou a médica, que pediu anonimato.

Acometida por dores abdominais, a dona de casa Elane Cristina Barros, moradora do sítio Ponta de Mangue, em Maragogi, procurou atendimento no posto de Saúde da Família do distrito de Peroba. De lá, teve de ser encaminhada à Unidade Mista de Saúde deste município alagoano, no centro da cidade.

Ela foi diagnosticada com suspeita de cálculo renal. Precisava, entretanto, realizar exames. Esperou longos 15 dias, o suficiente para contrair uma infecção urinária que a forçou a buscar atendimento no Hospital Municipal de Barreiros.

“Em Maragogi, eu fui atendida em parte. O problema é que lá não tem como fazer um exame sequer. Aqui a assistência é melhor”, alegou Elane, recompondo-se na área de observação feminina do Hospital de Barreiros. Ao ser indagada sobre como se sente tendo de buscar auxílio em Pernambuco, ela respondeu: “Constrangida. A palavra é essa!”, lamentou.

DIFICULDADES

Mas se engana quem pensa que tudo transcorre às mil maravilhas no Hospital Municipal de Barreiros. O diretor administrativo confessa, logo no primeiro contato: “Estamos sufocados”. O custo para manter um hospital daquele porte, com 54 leitos, 230 funcionários, 32 médicos e cerca de 350 atendimentos diários passa de R$ 1 milhão, a maior parte custeada pelo Ministério da Saúde.

Como no hospital de referência de Porto Calvo, em Alagoas, os municípios circunvizinhos de Barreiros não colaboram financeiramente para manter a instituição. “Não existe um consórcio entre os municípios para nos ajudar. No popular, eu diria que eles fazem a feira e ainda comem da nossa. Estamos fazendo das tripas coração”, resumiu Marcos Miranda, recordando que reuniões já foram realizadas com os prefeitos das cidades vizinhas e a proposta de pactuação de recursos não avançou.

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