terça-feira, 2 de setembro de 2014

SAÚDE BÁSICA

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Cadê o homem de branco? A pele arde em brasa, a mente delira, o frio se entranha e a febre alucina. O encantado some feito mal-assombro. Vestido de branco, qual alma penada, só o medo de ir a postos de saúde sem médicos, como em Lagoa Vermelha, Quitunde e Pindoba, zona rural de São Luís do Quitunde.
 
Se a doença do SUS não tem cura, resta apenas uma profilaxia: “rezar para os filhos não adoecerem” é a única receita encontrada por Helenilda Herculano para espantar os fantasmas do posto que abre uma vez por semana e ocupa parte da escola, no Sítio Lavras, em Palmeira dos Índios.
 
A visagem de um doutor é relativa, varia em saltos no espaço-tempo, de 15 em 15 dias, ou na Serra da Mandioca, a três horas de caminhada com o filho febrento no colo.
 
A origem de todos os problemas da saúde pública em Alagoas está na rede de atenção básica, que deveria resolver 80% dos casos, mas resolve bulhufas.
 
Sem profissional de saúde no posto da região, o paciente cai no limbo hospitalar, uma espécie de purgatório, com muita alma para pouca reza. É um médico só por plantão, e quem achar ruim vá ver o que é bom pra tosse no Hospital Geral do Estado. Ou agonize em casa, como a moradora do povoado Quitunde, de 77 anos, que está de cama há três anos e só recebe a visita de um agente de saúde a cada seis meses.
 
Se o povo padece, o sistema adoece. Rios de dinheiro da saúde pública escorrem pelo ralo em contratações suspeitas ou gastos com reformas esquisitas.
 
Boa parte dos postos de saúde reformados no ano passado, em Maceió, deve passar por novas obras, este ano, para consertar os defeitos que não foram corrigidos. Será a reforma da reforma.
 
Muitas unidades, como a de Fernão Velho, ainda precisam de pintura externa e interna, de reparos na rede elétrica, por causa de curtos-circuitos, e na estrutura hidráulica, porque mofo e infiltrações continuam.
 
A primeira reforma foi feita sem licitação; a segunda é questionada e investigada pelo Conselho Municipal de Saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário