terça-feira, 19 de agosto de 2014

As chagas da saúde em Alagoas

Por Maurício Gonçalves, repórter do jornal Gazeta de Alagoas (Especial sobre Saúde - 17.08.14)

Jornal expõe caos na saúde pública de Alagoas (Reprodução/Gazetaweb)
Pague ou morra. A saúde pública em Alagoas é uma faca no pescoço. O dinheiro ou a vida. A ordem típica dos assaltos ecoa nos postos, ambulatórios e hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma infinitude de crimes é cometida contra o pobre que adoece nesse estado. A vítima, que não tem como bancar um plano, precisa tirar dinheiro sabe-se lá de onde para fazer exames, comprar remédios, pagar uma consulta particular, internar-se ou fazer uma cirurgia.

Bandidos mascarados pela impunidade armam esquemas para dominar a marcação de procedimentos, forjam contratos milionários, fraudam licitações, vendem fichas de atendimento, surrupiam verba pública e montam quadrilhas para conquistar votos nas unidades de saúde. O câncer da corrupção açoita o corpo do SUS, maltratado com a baixa imunidade da falta de recursos. A úlcera da má gestão inflama, um glaucoma cega os olhos da saúde preventiva, pés e mãos diabéticos são cortados com o fim de hospitais no interior. Colapso. O SUS em Alagoas é um corpo que cai.

As portas se fecham para pacientes com aids, com câncer, com cardiopatias. Portas que só voltam a se abrir em corredores superlotados do Hospital Geral do Estado (HGE) ou nas pedras frias do necrotério. É um assalto à dignidade humana. Vidas roubadas. Alguns conseguem escapulir à sina insana, como Noêmia Vieira, que teve dinheiro para financiar os exames e conseguiu o diagnóstico de câncer de mama a tempo de lutar na Justiça para fazer a cirurgia. Muitos ficam no meio do caminho, ou no início, como o bebê Juliano, que não suportou dois meses de espera pela cirurgia cardíaca que os pais não tinham condições de pagar.

A saúde pública vive um estado de interdição constante. A incompetência, a burocracia, a má vontade e a falta de estrutura terminam de lacrar o acesso dos pacientes, com as fitas em preto e amarelo, como a que foi utilizada esta semana após o incêndio no PAM Salgadinho. Com a prevenção relegada ao último plano, males que poderiam ser evitados ou tratados logo no início terminam por descambar para doenças graves, com complicações e altos custos para o erário público.

Em tempos de eleição, a reportagem da Gazeta de Alagoas se propôs a investigar qual o legado que o próximo governador de Alagoas vai receber na área de saúde. O resultado não é nada saudável e pode ser examinado nos dois cadernos especiais que a Gazeta de Alagoas publicou no último domingo (17) e o do próximo (24). A variedade de temas e denúncias é capaz de atordoar o mais aplicado dos leitores. O material foi dividido em quatro grandes blocos de assuntos: saúde básica (bloco 1), assistência hospitalar e ambulatorial (bloco 2), debates com especialistas (bloco 3), denúncias e personagens (bloco 4).

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