Por Maurício Gonçalves, repórter do jornal Gazeta de Alagoas (Especial sobre Saúde - 17.08.14)
Pague
ou morra. A saúde pública em Alagoas é uma faca no pescoço. O dinheiro ou a
vida. A ordem típica dos assaltos ecoa nos postos, ambulatórios e hospitais do
Sistema Único de Saúde (SUS). Uma infinitude de crimes é cometida contra o
pobre que adoece nesse estado. A vítima, que não tem como bancar um plano,
precisa tirar dinheiro sabe-se lá de onde para fazer exames, comprar remédios,
pagar uma consulta particular, internar-se ou fazer uma cirurgia.
Bandidos
mascarados pela impunidade armam esquemas para dominar a marcação de
procedimentos, forjam contratos milionários, fraudam licitações, vendem fichas
de atendimento, surrupiam verba pública e montam quadrilhas para conquistar
votos nas unidades de saúde. O câncer da corrupção açoita o corpo do SUS, maltratado
com a baixa imunidade da falta de recursos. A úlcera da má gestão inflama, um
glaucoma cega os olhos da saúde preventiva, pés e mãos diabéticos são cortados
com o fim de hospitais no interior. Colapso. O SUS em Alagoas é um corpo que
cai.
As
portas se fecham para pacientes com aids, com câncer, com cardiopatias. Portas
que só voltam a se abrir em corredores superlotados do Hospital Geral do Estado
(HGE) ou nas pedras frias do necrotério. É um assalto à dignidade humana. Vidas
roubadas. Alguns conseguem escapulir à sina insana, como Noêmia Vieira, que
teve dinheiro para financiar os exames e conseguiu o diagnóstico de câncer de
mama a tempo de lutar na Justiça para fazer a cirurgia. Muitos ficam no meio do
caminho, ou no início, como o bebê Juliano, que não suportou dois meses de
espera pela cirurgia cardíaca que os pais não tinham condições de pagar.
A
saúde pública vive um estado de interdição constante. A incompetência, a
burocracia, a má vontade e a falta de estrutura terminam de lacrar o acesso dos
pacientes, com as fitas em preto e amarelo, como a que foi utilizada esta
semana após o incêndio no PAM Salgadinho. Com a prevenção relegada ao último
plano, males que poderiam ser evitados ou tratados logo no início terminam por
descambar para doenças graves, com complicações e altos custos para o erário
público.
Em
tempos de eleição, a reportagem da Gazeta de Alagoas se propôs a investigar
qual o legado que o próximo governador de Alagoas vai receber na área de saúde.
O resultado não é nada saudável e pode ser examinado nos dois cadernos
especiais que a Gazeta de Alagoas publicou no último domingo (17) e o do
próximo (24). A variedade de temas e denúncias é capaz de atordoar o mais
aplicado dos leitores. O material foi dividido em quatro grandes blocos de
assuntos: saúde básica (bloco 1), assistência hospitalar e ambulatorial (bloco
2), debates com especialistas (bloco 3), denúncias e personagens (bloco 4).
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