terça-feira, 26 de agosto de 2014

HOSPITAIS

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 17.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

A vida está por um fio, e a luz no fim do túnel é o foco cirúrgico que se apaga. Um fio solto faz a porta do hospital bater na cara do alagoano sofrido com a moléstia. Todo santo mês, os hospitais de Alagoas deixam de internar cerca de 4 mil pacientes do SUS. Alega-se falta de recursos. O fio que liga a vida à morte é cortado. Acabam hospitais no interior do estado.
 
Em Passo do Camaragibe, o ex-hospital hoje é ambulatório, foi rebaixado. E fio esticado poca, como a bolsa da gestante Maria Cícera. Teve de esperar por uma marcação do Cora para terminar de parir em Maceió, a 90 quilômetros.
 
“O Cora é a treva”, suspira a mulher que acode a parturiente. A distância até Porto Calvo é menos da metade (38 quilômetros), mas o hospital de referência cortou as operações para pacientes dos nove municípios vizinhos. Gastaram R$ 800 mil para reabrir o Centro Cirúrgico (fechado há 20 anos), as máquinas ficaram encaixotadas cinco anos, a maternidade não faz cesárea e só há cirurgias duas vezes por mês.
 
O governo de Alagoas assume apenas 5% dos recursos do hospital. A radiologia está pronta e sem funcionar. De Maragogi a São Luís do Quitunde, não existe um aparelho de raios-X ligado. Emergência? Só no nome.
 
A ampliação da Unidade de Emergência do Agreste rasteja no ritmo preguiçoso do governo e se enrola desde 2007. As obras seguem a conta-gotas em meio à enxurrada de pacientes que chegam de mais de 50 municípios e se aglomeram em macas nos corredores.
 
Em 2010, o governador Teotônio Vilela finalmente assinou a Ordem de Serviço e prometeu inaugurar a ampliação em um ano. Nada. Em agosto do ano passado, Téo fez uma visita técnica e nova promessa: mais um ano e nada. Agosto de 2014. A Gazeta de Alagoas pergunta quando termina a obra e a resposta é a mesma: “daqui a um ano”. Assim, de ano em ano, o tucano enche o papo.

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