Por Larissa Bastos, repórter do Gazetaweb
As faltas dos agentes de endemias
e do carro fumacê estão contribuindo para o avanço da dengue em Alagoas. Somente
até este mês de agosto, o estado registrou 9.763 casos da doença - sendo 256
deles nas formas mais graves da enfermidade - e uma morte já foi confirmada.
Os pedidos de doação de sangue
feitos pelas redes sociais para pessoas com a doença também só aumentam. Ainda
assim, poucas medidas de controle adotadas pelos órgãos oficiais parecem não
surtir efeito.
Um dos problemas diz respeito aos
agentes de endemias de Maceió, que, até o final de abril, estavam fora das ruas
devido à falta de equipamentos como fardamentos e crachás. Mesmo com a situação
resolvida e as equipes nas ruas, a Secretaria de Saúde do Município de Maceió
(SMS) admite outra dificuldade: o déficit no número de profissionais
trabalhando na área.
São apenas 378 para cobrir toda a
capital alagoana - em visitas domiciliares para combater focos da doença. Tanto
que, da última vez, a ação, que deveria acontecer a cada dois meses, devido aos
ciclos de 60 dias determinados pelo Ministério da Saúde (MS), demorou um total
de cinco meses para se completar. Após uma visita do órgão federal, um plano de
emergência foi montado.
Segundo a coordenadora de Doenças
Transmitidas por Vetores, Carmen Samico, os bairros de Maceió foram divididos
em três áreas: baixo, médio e alto risco, onde o número de visitações será
diferenciado dependendo da quantidade de casos registrados e do índice de
infestação predial (o percentual de imóveis com focos).
MONITORAMENTO
Enquadrados como de alto de
risco, Ipioca, São Jorge, Ponta da Terra, Levada, Pitanguinha, Pinheiro, Gruta,
Ouro Preto, Jardim Petrópolis, Canaã, Santo Amaro, Petrópolis, Chã do
Bebedouro, Fernão Velho e Rio Novo receberão três visitas até o final do ano.
Já as residências em Cruz das Almas, Mangabeiras, Jatiúca, Ponta Verde,
Pajuçara e Poço receberão duas visitas.
Os demais foram classificados
como de baixo risco e terão apenas uma visita dos agentes de endemias. "O
Ministério reordenou a situação e identificamos essas áreas, onde os
profissionais terão até dezembro para ir dentro desse esquema", diz a
coordenadora, que acrescenta ainda que a SMS está trabalhando para solucionar o
problema do baixo número de agentes.
Ela chama atenção, porém, para o
papel da população no combate à dengue. "Mesmo que fizéssemos 100% das
visitas, ainda assim precisamos do auxílio da população. De que adianta o
agente passar em cada casa de dois em dois meses e, nesse intervalo, o
proprietário deixar juntar um monte de focos do mosquito? A população precisa
fazer a parte dela".
A contadora Regina Célia Rueguer,
que teve dengue há cerca de duas semanas, reclama, porém, dos poucos cuidados
da saúde pública. "Esse ano, não passou nenhum agente aqui na minha casa.
A situação está de um jeito que nunca imaginei. Tem muita gente doente",
comenta, ela que teve a forma grave da enfermidade e quase ficou internada.
FUMACÊ
Outra reclamação da população é
com relação ao carro fumacê e sobre eles estarem rodando pouco tanto por Maceió
quanto no restante do Estado. "Já tem muito tempo que não vejo o carro
fumacê aqui. O resultado é que peguei dengue, não sei se aqui no bairro, e
fiquei muito debilitada. E ainda agradeço porque tenho plano de saúde; imagina
quem depende da saúde pública", diz Regina, moradora da Gruta.
O Tratamento a Ultra Baixo Volume
(UBV), mais popularmente conhecido como fumacê, atua matando o mosquito já
adulto e não as larvas, mas, segundo o coordenador da área na Secretaria de
Estado da Saúde (Sesau), Jorge Simões, deve ser uma das últimas medidas a ser adotadas
no controle da doença.
"É a última ação de controle,
até porque agride o meio ambiente. Trabalhamos dentro da necessidade, pois
precisamos ter cuidado para não destruir a fauna e a flora", expõe ele,
que diz ainda que os 10 carros fumacê do órgão não estão parados e são
utilizados em locais de situação de epidemia da dengue.
Segundo nota da secretaria, em
julho, o veículo percorreu os bairros do Trapiche, Gruta, Pajuçara e Ponta
Verde, além do município de São Sebastião. Já na próxima semana, o tratamento a
UBV será realizado na cidade de Penedo. "O tratamento deve ser feito
durante a madrugada ou final da tarde, sem vento e sem sol", explica ainda
o documento.
Jorge Simões ressalta que há
municípios com o equipamento próprio também e coloca a responsabilidade pelo
alto número de casos nas administrações municipais. "Quando o fumacê
passa, é porque o trabalho anterior não foi feito; o município não tratou
direito, assim como a população, que também precisa ter cuidados em casa, no
trabalho, na escola", destaca o coordenador.
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