Esgoto corre a céu aberto nas ruas de conjunto da Reconstrução, em Rio Largo, e ameaça a saúde dos moradores
Por Thiago Gomes, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 17.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)
Rio Largo – Como se não bastasse a ferida na alma por ter perdido tudo na devastadora enchente de 2010, os remanescentes de Rio Largo, na região Metropolitana, agora estão adoecendo por causa do esgoto que corre livre pelas ruas do mal planejado Conjunto Bosque dos Palmares, erguido com dinheiro do governo federal destinado à reconstrução dos municípios atingidos. Os desabrigados ganharam a casa e, com ela, o risco de contrair as mais variadas doenças. Sempre que chove, a maioria das residências alaga e o drama se repete.
A inauguração do residencial só aconteceu em 2013, três anos após a cheia. No desespero, os desalojados e alguns penetras invadiram o local, ainda em 2012, e ali permaneceram por um longo período, até que a regularização aconteceu, quase um ano depois. O cadastro das famílias beneficiadas até hoje intriga os que realmente sofreram com as chuvas e as autoridades de fiscalização. Denúncias de concessão ilegal de chaves foram feitas ao Ministério Público, mas nada foi provado até agora. E os próprios moradores evitam tocar neste assunto, com medo de represálias.
Em recente visita ao residencial, a Gazeta percebeu, logo de cara, uma disparidade na estrutura das moradias. Muitas já foram totalmente reformadas, com muros altos e cobertos com revestimento e portões modernos. Em outras, bem mais simples, moram famílias que sobrevivem com um salário mínimo.
As ruas continuam asfaltadas, mas, devido às chuvas e o consequente alagamento, é comum ter que desviar de grandes buracos. Em cada cruzamento há uma estrutura de cimento com uma tampa de aço. Seria a evidência de que o sistema de esgoto existe, mas que, na verdade, é muito precário. Lamas escuras e fétidas tiram o sossego dos residentes. A água suja brota no meio da via pública e desemboca nos bueiros.
O mato é outro problema relatado pelos moradores. É rotineiro o acúmulo de lixo e de metralha por causa das inúmeras construções no local. Quem vive ali teme a proliferação de insetos e pragas difíceis de combater, a exemplo de vetores de doenças como a dengue e a leptospirose. Alexandre Fernandes, que exerce uma espécie de liderança no conjunto, critica a ausência de garis e revela ser um fato raro vê-los ao longo do ano. “Nunca esse mato é limpo”, reclama.
Outra reclamação é a falta de agentes de saúde para visitar os imóveis com o objetivo de combater as endemias. Segundo Fernandes, há registro de moradores com suspeita de dengue no conjunto.
Porém, a grande preocupação dos moradores é em relação ao volume de água que se acumula no conjunto sempre que chove. A aposentada Maria José Gomes, de 64 anos, lembra com tristeza as três vezes que teve a casa invadida pela água. Segundo ela, na primeira ocasião, o nível subiu cerca de um metro de altura e entrou na residência com toda a força. “Perdi boa parte dos meus móveis. Foi um desespero e tive que agilizar a retirada de tudo para evitar o pior”, recorda.
As ruas continuam asfaltadas, mas, devido às chuvas e o consequente alagamento, é comum ter que desviar de grandes buracos. Em cada cruzamento há uma estrutura de cimento com uma tampa de aço. Seria a evidência de que o sistema de esgoto existe, mas que, na verdade, é muito precário. Lamas escuras e fétidas tiram o sossego dos residentes. A água suja brota no meio da via pública e desemboca nos bueiros.
O mato é outro problema relatado pelos moradores. É rotineiro o acúmulo de lixo e de metralha por causa das inúmeras construções no local. Quem vive ali teme a proliferação de insetos e pragas difíceis de combater, a exemplo de vetores de doenças como a dengue e a leptospirose. Alexandre Fernandes, que exerce uma espécie de liderança no conjunto, critica a ausência de garis e revela ser um fato raro vê-los ao longo do ano. “Nunca esse mato é limpo”, reclama.
Outra reclamação é a falta de agentes de saúde para visitar os imóveis com o objetivo de combater as endemias. Segundo Fernandes, há registro de moradores com suspeita de dengue no conjunto.
A vítima da cheia ainda tem que manter as portas de casa fechadas, porque o esgoto passa na porta e o mau cheiro é insuportável. Com problemas na coluna, gastrite e reumatismo, ela ainda pena para conseguir assistência médica. “Aqui deveria ter um posto de saúde. Mês passado, minha neta precisou de socorro porque uma semente de amendoim ficou presa em seu nariz. Pedi ajuda a um parente que mora próximo e tem um carro, que nos levou até o posto de saúde mais próximo. Lá não tinha médicos e a orientação que nos deram foi procurar o Hospital Geral do Estado. A semente só foi retirada no outro dia. A minha neta poderia ter morrido por falta de atendimento”, disse.
A também aposentada Ana Maria da Silva, de 61 anos, chora ao lembrar da história de vida e da sequência de dificuldades que lhe acompanha, desde a inundação, há quatro anos. Morando em uma casa emprestada, ela sofre com a falta de estrutura para sobreviver e lembra com pesar dos momentos de angústia vividos, tanto na cheia como durante os alagamentos recentes da residência onde vive. Para evitar novos transtornos, ela mandou construir batentes na porta da frente, dos fundos e do banheiro do imóvel.
Com osteoporose e trombose, ela caminha com bastante dificuldade, amparada por um cabo de vassoura, que utilizava como se fosse uma muleta. Para atravessar o batente, a dona de casa faz um grande esforço e corre risco de cair. “Eu morava no bairro Gustavo Paiva e perdi tudo naquela enchente. Fiz o cadastro do governo para ganhar a minha casa e ainda não consegui”, chora a aposentada. “Desde que vim para esta casa, passo pelo mesmo problema. Tudo se repete e nada se faz para resolver a nossa dificuldade”, completa o raciocínio, enxugando as lágrimas. Os móveis que têm, atualmente, foram doados por vizinhos e familiares, conforme ela revela.
A idosa destaca que adoeceu recentemente. Sentindo cansaço, tossindo bastante e com a pressão elevada, ela diz que manteve contato com uma farmácia próxima, que faz serviço em domicílio, para tomar uma medicação, mas o motoqueiro ficou impossibilitado de chegar até a moradia, pela quantidade de água que se acumulou. “Eu moro sozinha. Se eu passar mal aqui, só a mão de Deus para me ajudar. Nem um posto de saúde tem aqui perto para me socorrer”, lamenta.
Marinita da Silva Rêgo é cadeirante e vive sozinha em uma casa de esquina no residencial. O local é um pouco mais elevado em relação ao nível da rua, o que não evitou que a água da chuva invadisse o imóvel. Ela diz que mal sai, temendo sofrer algum acidente na rua, já que as calçadas não têm acessibilidade. Para se ter uma ideia, os postes ficam na esquina e no meio do calçamento, impedindo que uma cadeira de rodas passe. Neste período chuvoso, a aposentada comenta que a maior preocupação é com as viroses.
“Aqui está uma epidemia de virose. Muita gente gripada e eu fico me protegendo para não pegar essa doença. Se eu adoecer aqui, tenho que pegar um táxi ou apelar para que os vizinhos me socorram”, afirma Marinita.
De acordo com Alexandre Fernandes, todas as reclamações dos moradores já foram levadas ao conhecimento do Ministério Público e das secretarias envolvidas com o Programa da Reconstrução. Entretanto, segundo ele, há lentidão na resolução das dificuldades, o que gera insatisfação constante da comunidade.
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