Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 17.08.14 - Especial sobre Saúde em Alagoas)
Palmeira
dos Índios – A saúde em Palmeira dos Índios foi tema de audiência pública no
dia 1º de agosto. A reunião fez parte das atividades do Grupo de Trabalho da
Saúde do Ministério Público (MP), presidido pela promotora Micheline Tenório, e
teve como objetivo endossar o diagnóstico que o órgão está fazendo sobre o
setor no município. A participação popular foi menor que a esperada pela
promotora da Comarca, Salete Adorno. Mesmo assim, a quantidade de críticas foi
grande.
O Conselho Municipal de Saúde revela um aumento na quantidade de denúncias
sobre falta de medicamentos e insumos nos postos de saúde de Palmeira dos
Índios. A informação foi reforçada por um morador da Vila João XXIII, que disse
ter procurado atendimento na unidade do bairro e, além de remédios, não havia
sequer gaze para fazer curativos. Houve reclamações também sobre a falta de
psiquiatra no Centro de Apoio Psicossocial (Caps).
As críticas vieram, inclusive, de funcionários de postos de saúde. Pedro
Correia, que integra o PSF Santo Antônio, disse se sentir impotente diante da
reclamação de usuários. “A população cobra e a gente não pode fazer nada. Os
pedidos de exame se acumulam, mas eles não estão disponíveis”, declarou,
informando também que a estrutura física do posto é precária. “Na sala de vacinas,
que devia ser um ambiente controlado para evitar contaminação, já encontramos
uma cobra”, completou.
Funcionária de outro PSF, que se identificou apenas como Janiele, reclamou que
a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) tem mandado os usuários de volta para o
posto de saúde. Ela citou como exemplo dois pacientes que tinham prescrição
para aplicação de Benzetacil. “Posso dizer até que foi vergonhoso para nós.
Encaminhamos esses pacientes para a UPA, porque a medicação apresenta riscos de
efeito colateral, e depois esses pacientes voltam dizendo que eles não quiseram
ministrar o remédio”, declarou.
Há reclamações direcionadas ao Hospital Santa Rita. A diretora do Sindicato dos
Previdenciários (Sindprev), Vânia Calheiros, que faz parte do Conselho Municipal
de Saúde, sugere que a mãe dela poderia não ter morrido se o atendimento no
hospital fosse melhor. “Ela levou uma queda em casa e fraturou o fêmur, era uma
pessoa de idade, demoraram muito para atendê-la. Após mais de 3 horas de
espera, mandaram para a Unidade de Emergência do Agreste. Ela foi operada, mas
acabou morrendo. Fico imaginando que ela poderia estar viva se tivesse sido
atendida mais rápido”, afirmou.
A promotoria de Palmeira dos Índios já iniciou, há algum tempo, um levantamento
situacional sobre a saúde do município. Segundo Salete Adorno, em paralelo ao
relatório que o Conselho Municipal de Saúde está produzindo, o MP encaminhou
para os postos de saúde um questionário com o objetivo de fazer um diagnóstico.
De posse das informações reunidas até agora, a promotora afirma que o problema
mais grave é a falta de médicos na atenção básica.
“O que mais me preocupa é o atendimento ao usuário. O problema é a falta de
médicos, mas, principalmente, o descumprimento da jornada de trabalho. Os médicos
não estão cumprindo a carga horária e a população é penalizada. A questão dos
exames, cuja quantidade é inferior à demanda, também é complicada. Além disso,
estamos também investigando denúncias”, declarou.
Em relação às reclamações de falta de remédios e insumos nos postos de saúde, a
promotora acredita que há falta de planejamento. “Não se pode usar a desculpa
do trâmite licitatório, até porque o processo deve prever advertência ou mesmo
rescisão do contrato em caso de não fornecimento dos produtos licitados. A
gente não pode permitir que isso seja usado como desculpa para aquisições sem
licitação. Se o município sabe que gasta quantidade ‘X’ de um medicamento por
ano, deveria fazer a licitação para ‘X” mais 20%, por exemplo, para não correr
o risco de faltar”.
COBERTOR CURTO
A secretária de Saúde Verônica Medeiros rebateu as críticas na audiência
pública. Entre as justificativas usadas por ela está o “cobertor curto” da
Saúde municipal, que tem limitações de recursos, e a “demanda infinita”. Ela afirma
que o município irá sanar o problema da falta de remédios nas farmácias dos
postos de saúde e também responsabiliza a Justiça pelo problema.
“Ano passado, tivemos que pagar a cirurgia de um paciente que custou mais de R$
50 mil à Saúde, embora nosso entendimento fosse que a responsabilidade por isso
não seria do município. Este valor destinado à cirurgia saiu do recurso que
tínhamos para aquisição de remédios da farmácia básica. Eu aprendi que decisão
da Justiça a gente tem que cumprir de qualquer jeito, e como não há dinheiro
sobrando, tinha que tirar de algum lugar para fazer o que a Justiça manda”,
justifica.
Sobre a UPA, a secretária afirmou ter recebido elogios em relação ao
atendimento médico, mas afirma que é necessário ainda que a população “se
acostume” a procurar a Unidade de Pronto Atendimento antes de ir direto para o
hospital. “É cultural, em Palmeira dos Índios, e até mesmo pela UPA ser
recente, a população procurar primeiro o Hospital Santa Rita. Tem o fato também
de a UPA ter ficado em um bairro um pouco distante, mas isso acontece porque a
cidade está crescendo e não há espaços disponíveis no Centro. Mas é uma questão
de tempo até a população se acostumar, vai ser mais fácil depois que o Centro
de Diagnóstico, que vai ficar em frente à UPA, for construído”, ressaltou.
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