Sem saneamento básico, esgotos desaguam em rio, no município Viçosa, e contaminam a água usada pelos moradores, que adoecem ao lavar roupas e utensílios domésticos
Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 17.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)
Viçosa – O balançar das árvores exala um aroma de folha e fruto. Terra Viçosa, que dá nome ao município. Um vento ameno sobrevoa pelo campo verde vivo, cortado pelo rio que desenha a paisagem bucólica. O lavado de roupa no lajedo e o tibungo das crianças são rotina, mas o Paraíba do Meio esconde inimigos silenciosos. Uma multidão de Áscaris lumbricóidis, ansilostemídios, tênias, xistosomas e outros vermes platelmintos se banham em busca de hospedeiros e vítimas.
O contato com o rio é inevitável em comunidades como o povoado quilombola da Mata Escura. Por isso, sempre tem alguém doente na região considerada endêmica. O esgoto das casas corre a céu aberto e se mistura com fezes suínas, equinas, bovinas e com o sabão utilizado para lavar as roupas de dona Maria Neusa da Conceição. Na boca, o velho cachimbo companheiro de todas as horas, e muita história para contar sobre as desventuras trazidas pela falta de saneamento básico, de assistência à saúde básica e de atendimento hospitalar pelo SUS.
Tudo começa pela falta de noção do perigo (mais conhecida pelos burocratas como conscientização), seguida pelo desprezo à prevenção. “O meu marido teve a xistosoma e não se curou porque tomou o remédio com cachaça. Ele ficou com a pele fina e estava com a barriga assim, bem grande”, conta Maria Neusa, esticando os braços para mostrar a protuberância do ventre.
“Para piorar, ficou intoxicado e deu cirrose”, continua a agricultora que mede o passar do tempo de um modo peculiar. “Teve o tempo das mangas e o meu marido já estava internado na emergência. Acabou as mangas e ele não saiu de lá. Foi muito tempo de agonia”. Insatisfeita com o tratamento do SUS, Maria Neusa resolveu adotar suas providências para salvar o consorte. “Arrumei um bocado de folha de amêndoa boa, cozinhei para dar um banho de água morninha, juntei outras plantas e fiz um cozinhado forte para os intestinos”. Desse dia em diante, o marido melhorou. “Deve ter expulsado a verme”, imagina a agricultora aposentada.
O contato com o rio é inevitável em comunidades como o povoado quilombola da Mata Escura. Por isso, sempre tem alguém doente na região considerada endêmica. O esgoto das casas corre a céu aberto e se mistura com fezes suínas, equinas, bovinas e com o sabão utilizado para lavar as roupas de dona Maria Neusa da Conceição. Na boca, o velho cachimbo companheiro de todas as horas, e muita história para contar sobre as desventuras trazidas pela falta de saneamento básico, de assistência à saúde básica e de atendimento hospitalar pelo SUS.
Tudo começa pela falta de noção do perigo (mais conhecida pelos burocratas como conscientização), seguida pelo desprezo à prevenção. “O meu marido teve a xistosoma e não se curou porque tomou o remédio com cachaça. Ele ficou com a pele fina e estava com a barriga assim, bem grande”, conta Maria Neusa, esticando os braços para mostrar a protuberância do ventre.
“Para piorar, ficou intoxicado e deu cirrose”, continua a agricultora que mede o passar do tempo de um modo peculiar. “Teve o tempo das mangas e o meu marido já estava internado na emergência. Acabou as mangas e ele não saiu de lá. Foi muito tempo de agonia”. Insatisfeita com o tratamento do SUS, Maria Neusa resolveu adotar suas providências para salvar o consorte. “Arrumei um bocado de folha de amêndoa boa, cozinhei para dar um banho de água morninha, juntei outras plantas e fiz um cozinhado forte para os intestinos”. Desse dia em diante, o marido melhorou. “Deve ter expulsado a verme”, imagina a agricultora aposentada.
Quase todos os filhos e netos de Neusa tiveram a doença. Um deles, Manoel Messias da Silva, tem a explicação. “Aqui, o esgoto vai para o rio direto, de inverno a verão. O meu pequeninho de 6 anos acusou que tem xistosoma no exame”. O combate à endemia deveria ser simples, realizar os exames nas pessoas e dar apenas um comprimido fornecido gratuitamente pelo governo.
No entanto, a endemia parece não ter fim. “As fezes de todas as casas passam na minha porta”, resume o agricultor José Cláudio. O coordenador de Combate a Endemias de Viçosa, Luiz Barbosa, informa que cerca de 40% dos recipientes entregues aos moradores para exames de fezes não são devolvidos. Mesmo assim, ele assegura que a taxa de prevalência da esquistossomose baixou de 9,5% para cerca de 5% da população.
O vaqueiro Josival de Oliveira sofre com os efeitos dessa verminose há várias safras de manga. “Deve ter uns seis anos que fizeram o exame e acusou, eu já senti a gastrite, muita dor, cólicas no pé da barriga e disenteria, hoje mesmo já tive uma disenteria da beleza”, lamenta o tratador de animais.
Ele é um exemplo da ineficiência da assistência básica à saúde nos municípios do interior de Alagoas. As visitas de agentes de saúde deveriam ser frequentes, mas Josival demorou anos doente até fazer o primeiro exame, no povoado Gado Bravo, às margens do Rio Perucaba, no município de São Sebastião. Hoje, seis meses após o diagnóstico, ele já se mudou para a fazenda Gruta Funda, na zona rural de Viçosa, e continua sem fazer o tratamento.
Eis um retrato do SUS em Alagoas. O descaso, a burocracia, a corrupção e a falta de estrutura são como vermes crescidos que lhe comem as entranhas.
No entanto, a endemia parece não ter fim. “As fezes de todas as casas passam na minha porta”, resume o agricultor José Cláudio. O coordenador de Combate a Endemias de Viçosa, Luiz Barbosa, informa que cerca de 40% dos recipientes entregues aos moradores para exames de fezes não são devolvidos. Mesmo assim, ele assegura que a taxa de prevalência da esquistossomose baixou de 9,5% para cerca de 5% da população.
O vaqueiro Josival de Oliveira sofre com os efeitos dessa verminose há várias safras de manga. “Deve ter uns seis anos que fizeram o exame e acusou, eu já senti a gastrite, muita dor, cólicas no pé da barriga e disenteria, hoje mesmo já tive uma disenteria da beleza”, lamenta o tratador de animais.
Ele é um exemplo da ineficiência da assistência básica à saúde nos municípios do interior de Alagoas. As visitas de agentes de saúde deveriam ser frequentes, mas Josival demorou anos doente até fazer o primeiro exame, no povoado Gado Bravo, às margens do Rio Perucaba, no município de São Sebastião. Hoje, seis meses após o diagnóstico, ele já se mudou para a fazenda Gruta Funda, na zona rural de Viçosa, e continua sem fazer o tratamento.
Eis um retrato do SUS em Alagoas. O descaso, a burocracia, a corrupção e a falta de estrutura são como vermes crescidos que lhe comem as entranhas.
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